A verdade da vida.


Imposturas e ilusões são estimadas como as mais sólidas verdades, ao passo que a realidade é fabulosa. Se os homens observassem constantemente apenas as realidades, e não se deixassem iludir, a vida, comparada às coisas que conhecemos, seria como um conto de fadas ou uma história das Mil e uma noites.
Se respeitássemos apenas o que é inevitável e tem o direito de existir, as ruas ressonariam com música e poesia. Quando somos sábios e não temos pressa, percebemos que somente as coisas grandes e valiosas têm alguma existência absoluta e permanente - que os pequenos medos e os pequenos prazeres não passam de sombras da realidade. Esta é sempre revigorante e sublime.
Ao fechar os olhos e cochilar, ao consentir ser iludidos pelas aparências, os homens estabelecem e consagram por toda parte sua vida diária de hábito e rotina, a qual, porém, se ergue sobre alicerces puramente ilusórios.
As crianças, que brincam de vida, percebem suas verdadeiras leis e relações com mais clareza do que os homens, que fracassam em vivê-la dignamente, mas pensam que são mais sábios pela experiência, isto é, pelo fracasso.

Henry David Thoreau (1817-1862), trecho de "Onde e Para que Vivi", capítulo de "Walden". Thoreau se isolou da sociedade e escreveu sobre o ser humano e os modos como se organiza pelo planeta.

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